quarta-feira, 16 de junho de 2010

RALLY DE PORTUGAL - PARTE 3.

Então vamos lá a acabar isto...

Sexta-feira, o dia 1. Depois de uma ligação de cerca de 80 kms, eis-nos no inicio de Sta Clara, ritmo moderado, nada de arriscar nem partir o carro, pois os troços estão duríssimos e muito massacrantes, e como tal há que esquecer os tempos dos nossos colegas e fazermos a nossa prova sem nos preocuparmos com mais nada á nossa volta. Não vamos seguramente retirar muito prazer da condução nem nos vamos divertir muito ao volante, mas á ralis em que a táctica tem que ser esta.

O 1º troço já está, vamos agora para Ourique, um troço sempre espectacular, mas que este ano está particularmente duro. Tudo normal até cerca de 7 ou 8 kms do final, quando começo a notar que nas curvas para a esquerda, a traseira se está a passar mais do que é normal. Percebi logo que vínhamos furados, mas como estávamos quase no final e os pneus são "tipo ferro", resolvi não dizer nada ao Filipe para não o alarmar e continuar assim, na esperança que desse para chegar até ao final. Infelizmente uns 2 kms mais á frente, começámos a ouvir um enorme barulho que vinha da roda de trás do lado direito e nada a fazer, tínhamos mesmo que parar a meio do troço.

Vejam lá bem, que num rali desta dimensão e com centenas de kms de troços e inúmeros postos de controlo, assim que parámos o carro e saímos para mudar a roda, a primeira pessoa que apareceu á nossa frente foi o pai do Filipe, o TóZé, que estava responsável por aquela zona. Ele há coisas...

Assim que tirámos a roda, vimos imediatamente que não tinha sido um furo, mas sim a jante que não tinha aguentado a dureza do piso e se tinha partido. Faltava-lhe um bom palmo, bolas!
Roda mudada e aí vamos nós até ao fim. Mais um troço concluido apesar deste problema. Ainda é cedo e a procissão vai no adro, e o importante é ir resistindo até ao final.

Silves não nos traz chatices de maior, e depois de uma ida á assistência, a 2ª ronda pelos mesmos 3 troços corre-nos normalmente e sem qualquer tipo de problemas. Estava feito o 1º dia.

No 2º dia, esperava-nos uma passagem dupla por Almodovar, Vascão e S. Brás, troços que se previam muito duros e demolidores.

Almodovar e Vascão estavam para lá de duros, pois existiam sitios em que a preocupação não era propriamente conduzir, mas sim desviar o carro das pedras e dos buracos existentes, tal era degradação do piso. Já S.Brás, apesar de também não estar fácil, era um troço em que o carro não sofria tanto, pois apesar de degradado, o piso já apresentava outras caracteristicas. Nova ida á assistência a meio do rali, para depois cumprirmos mais uma passagem por estes mesmos troços durante a tarde, e lá se passou mais um dia.

É verdade que estamos a andar a 50% daquilo que poderíamos fazer, mas até a data nem um parafuso se desapertou no carro, e eu continuo a achar que num rali com estas caracteristicas, pode-se perder mais do que aquilo que se ganha, e apesar de saber também que é mais motivador para toda a gente quando se anda a fundo e na disputa de posições, estou plenamente convencido, e o nosso Director Desportivo também, que esta é a táctica mais correcta a aplicar nesta altura. Assim sendo, falta um dia para o final e há que trazer a "burra" inteira e sem mazelas até ao fim.

No Domingo levantamo-nos bem cedo para sairmos para o último dia cerca das 7,20h da manhã, numa passagem pelo troços de Felizes e Loulé e também para a SS final no estádio do Algarve.

Felizes, uma loucura de troço, aquele onde o ano passado o Latvala teve aquele acidente terrível. E Loulé, possívelmente a especial mais espectacular de todo o rali. Felizmente que o piso, apesar de continuar duro, não está tão massacrante como nos 2 primeiros dias, e aparte alguma atenção extra que teremos que ter com a gasolina, uma vez que iremos fazer cerca de 160 kms sem reabastecer, este prevê-se um dia calmo e sem grandes problemas.

Depois da 1ª ronda habitual e da ida á assistência, última passagem por Felizes sem problemas, e na última passagem por Loulé, logo na parte inicial, deparámo-nos com o Nuno Barroso Pereira capotado, felizmente sem consequências fisicas para ele ou para o navegador. Troço neutralizado e depois do carro ter sido retirado, feito em ligação até ao final. Estava feito o rali. Agora era só a SS do estádio e pronto.

No final, penso que o balanço desta prova tem que ser positivo, embora eu não consiga descodificar e relatar com clareza aquilo que me vai na alma.
Cumprimos os objectivos da equipa e continuamos na 2ª posição do campeonato de Gr.N e no 5º posto absoluto do CPR, algo absolutamnte impensável no começo do ano, mas apesar de tudo, não posso dizer que estou completamente satisfeito. Tenho um "leve" amargo de boca que não sei explicar. Em parte é por saber que não temos condições para ir aos Açores e á Madeira defender esta classificação, ficando assim dependentes de resultados de terceiros, quando este poderia ser um bom ano em termos de campeonato, e por outro lado é por ter a sensação de que, por vezes, mesmo quem está mais próximo não compreende algumas das minhas decisões tomadas em prol da equipa.

Ás vezes, quem está á volta não entende que os objectvos da equipa estão acima dos objectivos do indivíduo. Eu próprio, tenho alturas onde não me apetecia ser tão calculista e gostava de andar com outro á vontade e sem qualquer tipo de pressão que não fosse a procura pura da performance, mas á momentos em que isso não é possível. Os ralis são um desporto de equipa, onde dependemos dos nossos patrocinadores e amigos que nos ajudam, e a não ser que sejamos ricos e façamos aquilo que nos dá na "real gana", não nos preocupando com nada nem com ninguém, o que não é aqui o caso, temos sempre que procurar dignificar ao máximo quem nos apoia, e a melhor forma de o fazer é terminando corridas e acabando os campeonatos em posições honrosas, pois só assim é possível que tudo possa ter uma continuidade e que continuem a confiar em nós para fazer este trabalho.

Eu sei que podia ter andado muito mais depressa no Rally de Portugal deste ano, mas será que os riscos iriam compensar aquilo que se poderia perder? Tenho a certeza que não. Ao fim destes 3 dias o carro está inteiro e não tivemos um único problema de mecânica. Poupámos o carro ao máximo para as 3 últimas provas de asfalto que nos faltam disputar e onde poderemos ainda aspirar a uma boa classificação no campeonato. Não temos nenhum cheque em branco, e por isso mesmo, há opções e decisões que têm que ser tomadas.

Quanto a algum amargo de boca, nada que não se resolva com uma chiclete de mentol...

Não posso terminar sem agradecer uma vez mais a todos os patrocinadores que tornam tudo isto possível; Grupo os Mosqueteiros (Roady, InterMarché, BricoMarché), SPO-Kumho Tyres, Garvetur, Franke, Pimensor, J.Silva, Petroltorres, Branco e Martinho e Speeddesign.

Uma palavra para a nossa assistência que esteve ao mais alto nível; o Zé, o Rosalino, o Gonçalo, o Manel e o Armando. Sempre ouvi dizer que, quem vai para o mar se avia em terra, e foi isso mesmo que o Zé fez na preparação do carro na sua oficina, pois durante a prova não se desapertou um único parafuso e não tivemos o minimo problema. 5 estrelas.

Ainda um agradecimento muito especial ao Ricardo Teodósio e ao Luis Mota.

Por fim, um abraço para o meu navegador, o Filipe, pela semana de alta tensão que passou comigo no Algarve.

A todos o meu muito obrigado.

Um abraço.

A.Neves

1 comentário:

  1. Excelente Texto, Excelente Descrição e Detalhe.
    EXCELENTE PROVA !
    De Resistência, Gestão de Meios e Desportiva.
    Como já tive oportunidade de to dizer pessoalmente, a forma como escreves e a fluidez como o fazes, consegue "prender" quem te começa a ler;
    Como diria um anuncio a umas certas determinadas sopas:
    "Eu Gosto !........."
    Mas desta vez, sem o "carolo" na nuca ;)
    Quanto ao Rally de Portugal, sei e tenho a certeza que conseguirias andar muito mais rápido, mas tal como dizes, e concordo, as consequências poderiam não compensar o, digamos, arrojo.
    Numa prova com a cobertura mediática como esta, as equipes têm obrigatoriamente que dedicar mais tempo de estratégia à visibilidade que proporcionam a todos os seus patrocinadores, sem descurar, obviamente, a parte desportiva "da coisa".
    Tu soubeste fazer e gerir esses equilíbrio.
    O resultado, tal como referes, foi positivo (eu acrescentaria, deveras positivo), porque nestas coisas, como em tantas outras, só ao fim é que se fazem as contas.
    Venha a Próxima!
    Grande Abraço.

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