domingo, 27 de junho de 2010

PILOTO E CO-PILOTO - UM CASAMENTO PERFEITO.

Para mim, em equipa que funcione bem dentro do carro, e fora dele também, acrescento, não se mexe mais. Caso seja possível, é um casamento para a vida sem direito a divórcio.

Os ralis, são um desporto de equipa, uma vez que dependemos todos do trabalho uns dos outros para alcançar o sucesso, mas grande parte desse sucesso começa na forma como piloto e co-piloto se "entendem" dentro e fora do carro.

No meu caso e do Filipe, existe uma confiança absoluta um no outro, adquirida ao longo dos anos em que fazemos ralis juntos, para além de uma sólida amizade para lá da competição, o que também é importante, pois existem casos, como por exemplo no Rally de Portugal, em que passamos muito tempo juntos e em situações de grande tensão, pelo que, se não existir um conhecimento profundo e uma boa amizade, há situações que se podem tornar um problema de difícil resolução, podendo mesmo vir a criar atritos e diferenças profundas em torno de toda a equipa.

Neste momento, posso dizer com toda a certeza, que o Filipe adivinha os meus pensamentos e antecipa as minhas reacções dentro do carro, sem que falemos sequer um com o outro. Para além disso, conhece-me bastante bem e sabe a minha opinião sem que para isso seja necessário perguntar-me o que quer que seja, o que muitas vezes é meio caminho andado para que o ambiente se mantenha sereno entre a equipa. Quanto a mim, na maioria das vezes nem preciso sequer de olhar para ele, para saber aquilo em que está a pensar em relação a determinada situação que se nos depara.

Aceito que os pilotos nem sempre são pessoas fáceis durante as corridas, uma vez que a pressão que têm sobre os ombros é enorme, com um sem número de "coisas" á volta na sua cabeça; A gestão da corrida versus resultados versus patrocinadores versus orçamento versus gerir a mecânica do carro versus terem consciência de que um bom ou mau resultado poderá ou não condicionar a próxima época, etc, etc, etc..., e por isso mesmo é importante que o co-piloto entenda na perfeição o que vai na cabeça do "seu" piloto e possa assumir o controle quando a situação assim o exije, resguardando-o ao máximo de todo e qualquer "barulho" exterior, que de alguma forma possa afectar a sua performance durante o rali.

Acerca de tudo isto, não resisto uma vez mais a citar uma passagem do livro "Pilote et Co-pilote de Rallye", onde Gérald Bedon, o co-piloto de Cédric Robert diz o seguinte: - "...Cédric sofre, também, uma pressão terrível e eu penso que o piloto está menos preparado para responder com calma a todas estas solicitações. Então, aqui o meu papel é acalmar as coisas, ajudar a ultrapassar as divergências, arredondar os ângulos, por forma a que ele esteja com o espirito tranquilo e tenha o espaço necessário que necessita para se concentrar e partir assim á procura do limite em cada especial..." e continua "...o ambiente á volta do piloto deve ser o mais descontraído possível, qualquer agressão a partir do exterior será imediatamente rechassada. Felizmente, tenho alguma facilidade para antecipar qualquer problema, dar um passo atrás, analisar as situações mais complicadas com calma e determinação. Cada membro da equipa deve conhecer o seu lugar e saber a altura própria e a quem deve colocar determinada questão. Quanto ao piloto, deve ser mantido longe deste jogo, pois deverá concentrar toda a sua energia na batalha que se aproxima com as armadilhas do percurso." Nem mais!

Quanto a nós, para a posteridade ficam os momentos inolvidáveis passados dentro do carro, momentos esses apenas descritíveis por emoções e não por palavras, bem como os troços onde tudo foi perfeito e quase que fomos transportados para uma outra dimensão. Também é verdade que os ralis têm momentos menos bons, fruto da sua imprevisibilidade, mas é nestes momentos que uma verdadeira equipa se mantém unida e concentra todos os seus esforços para minimizar os danos e para continuar a avançar rumo aos seus objectivos.

Ao longo destes 5 anos, posso dizer que, eu e o Filipe já chegámos a um patamar de entendimento bastante elevado e formamos sem sombra de dúvida uma verdadeira equipa de piloto e co-piloto de ralis, embora tenhamos consciência de que, ainda temos muito trabalho pela frente no sentido de nos aperfeiçoarmos cada vez mais e podermos assim estar cada vez mais preparados para superar as dificuldades que ainda nos esperam rumo aos nossos objectivos, embora, ao olharmos para trás, nos sintamos felizes por tudo aquilo que já alcançámos e pelas conquistas importantes que já fizemos.

Um abraço.

A.Neves

quarta-feira, 16 de junho de 2010

RALLY DE PORTUGAL - PARTE 3.

Então vamos lá a acabar isto...

Sexta-feira, o dia 1. Depois de uma ligação de cerca de 80 kms, eis-nos no inicio de Sta Clara, ritmo moderado, nada de arriscar nem partir o carro, pois os troços estão duríssimos e muito massacrantes, e como tal há que esquecer os tempos dos nossos colegas e fazermos a nossa prova sem nos preocuparmos com mais nada á nossa volta. Não vamos seguramente retirar muito prazer da condução nem nos vamos divertir muito ao volante, mas á ralis em que a táctica tem que ser esta.

O 1º troço já está, vamos agora para Ourique, um troço sempre espectacular, mas que este ano está particularmente duro. Tudo normal até cerca de 7 ou 8 kms do final, quando começo a notar que nas curvas para a esquerda, a traseira se está a passar mais do que é normal. Percebi logo que vínhamos furados, mas como estávamos quase no final e os pneus são "tipo ferro", resolvi não dizer nada ao Filipe para não o alarmar e continuar assim, na esperança que desse para chegar até ao final. Infelizmente uns 2 kms mais á frente, começámos a ouvir um enorme barulho que vinha da roda de trás do lado direito e nada a fazer, tínhamos mesmo que parar a meio do troço.

Vejam lá bem, que num rali desta dimensão e com centenas de kms de troços e inúmeros postos de controlo, assim que parámos o carro e saímos para mudar a roda, a primeira pessoa que apareceu á nossa frente foi o pai do Filipe, o TóZé, que estava responsável por aquela zona. Ele há coisas...

Assim que tirámos a roda, vimos imediatamente que não tinha sido um furo, mas sim a jante que não tinha aguentado a dureza do piso e se tinha partido. Faltava-lhe um bom palmo, bolas!
Roda mudada e aí vamos nós até ao fim. Mais um troço concluido apesar deste problema. Ainda é cedo e a procissão vai no adro, e o importante é ir resistindo até ao final.

Silves não nos traz chatices de maior, e depois de uma ida á assistência, a 2ª ronda pelos mesmos 3 troços corre-nos normalmente e sem qualquer tipo de problemas. Estava feito o 1º dia.

No 2º dia, esperava-nos uma passagem dupla por Almodovar, Vascão e S. Brás, troços que se previam muito duros e demolidores.

Almodovar e Vascão estavam para lá de duros, pois existiam sitios em que a preocupação não era propriamente conduzir, mas sim desviar o carro das pedras e dos buracos existentes, tal era degradação do piso. Já S.Brás, apesar de também não estar fácil, era um troço em que o carro não sofria tanto, pois apesar de degradado, o piso já apresentava outras caracteristicas. Nova ida á assistência a meio do rali, para depois cumprirmos mais uma passagem por estes mesmos troços durante a tarde, e lá se passou mais um dia.

É verdade que estamos a andar a 50% daquilo que poderíamos fazer, mas até a data nem um parafuso se desapertou no carro, e eu continuo a achar que num rali com estas caracteristicas, pode-se perder mais do que aquilo que se ganha, e apesar de saber também que é mais motivador para toda a gente quando se anda a fundo e na disputa de posições, estou plenamente convencido, e o nosso Director Desportivo também, que esta é a táctica mais correcta a aplicar nesta altura. Assim sendo, falta um dia para o final e há que trazer a "burra" inteira e sem mazelas até ao fim.

No Domingo levantamo-nos bem cedo para sairmos para o último dia cerca das 7,20h da manhã, numa passagem pelo troços de Felizes e Loulé e também para a SS final no estádio do Algarve.

Felizes, uma loucura de troço, aquele onde o ano passado o Latvala teve aquele acidente terrível. E Loulé, possívelmente a especial mais espectacular de todo o rali. Felizmente que o piso, apesar de continuar duro, não está tão massacrante como nos 2 primeiros dias, e aparte alguma atenção extra que teremos que ter com a gasolina, uma vez que iremos fazer cerca de 160 kms sem reabastecer, este prevê-se um dia calmo e sem grandes problemas.

Depois da 1ª ronda habitual e da ida á assistência, última passagem por Felizes sem problemas, e na última passagem por Loulé, logo na parte inicial, deparámo-nos com o Nuno Barroso Pereira capotado, felizmente sem consequências fisicas para ele ou para o navegador. Troço neutralizado e depois do carro ter sido retirado, feito em ligação até ao final. Estava feito o rali. Agora era só a SS do estádio e pronto.

No final, penso que o balanço desta prova tem que ser positivo, embora eu não consiga descodificar e relatar com clareza aquilo que me vai na alma.
Cumprimos os objectivos da equipa e continuamos na 2ª posição do campeonato de Gr.N e no 5º posto absoluto do CPR, algo absolutamnte impensável no começo do ano, mas apesar de tudo, não posso dizer que estou completamente satisfeito. Tenho um "leve" amargo de boca que não sei explicar. Em parte é por saber que não temos condições para ir aos Açores e á Madeira defender esta classificação, ficando assim dependentes de resultados de terceiros, quando este poderia ser um bom ano em termos de campeonato, e por outro lado é por ter a sensação de que, por vezes, mesmo quem está mais próximo não compreende algumas das minhas decisões tomadas em prol da equipa.

Ás vezes, quem está á volta não entende que os objectvos da equipa estão acima dos objectivos do indivíduo. Eu próprio, tenho alturas onde não me apetecia ser tão calculista e gostava de andar com outro á vontade e sem qualquer tipo de pressão que não fosse a procura pura da performance, mas á momentos em que isso não é possível. Os ralis são um desporto de equipa, onde dependemos dos nossos patrocinadores e amigos que nos ajudam, e a não ser que sejamos ricos e façamos aquilo que nos dá na "real gana", não nos preocupando com nada nem com ninguém, o que não é aqui o caso, temos sempre que procurar dignificar ao máximo quem nos apoia, e a melhor forma de o fazer é terminando corridas e acabando os campeonatos em posições honrosas, pois só assim é possível que tudo possa ter uma continuidade e que continuem a confiar em nós para fazer este trabalho.

Eu sei que podia ter andado muito mais depressa no Rally de Portugal deste ano, mas será que os riscos iriam compensar aquilo que se poderia perder? Tenho a certeza que não. Ao fim destes 3 dias o carro está inteiro e não tivemos um único problema de mecânica. Poupámos o carro ao máximo para as 3 últimas provas de asfalto que nos faltam disputar e onde poderemos ainda aspirar a uma boa classificação no campeonato. Não temos nenhum cheque em branco, e por isso mesmo, há opções e decisões que têm que ser tomadas.

Quanto a algum amargo de boca, nada que não se resolva com uma chiclete de mentol...

Não posso terminar sem agradecer uma vez mais a todos os patrocinadores que tornam tudo isto possível; Grupo os Mosqueteiros (Roady, InterMarché, BricoMarché), SPO-Kumho Tyres, Garvetur, Franke, Pimensor, J.Silva, Petroltorres, Branco e Martinho e Speeddesign.

Uma palavra para a nossa assistência que esteve ao mais alto nível; o Zé, o Rosalino, o Gonçalo, o Manel e o Armando. Sempre ouvi dizer que, quem vai para o mar se avia em terra, e foi isso mesmo que o Zé fez na preparação do carro na sua oficina, pois durante a prova não se desapertou um único parafuso e não tivemos o minimo problema. 5 estrelas.

Ainda um agradecimento muito especial ao Ricardo Teodósio e ao Luis Mota.

Por fim, um abraço para o meu navegador, o Filipe, pela semana de alta tensão que passou comigo no Algarve.

A todos o meu muito obrigado.

Um abraço.

A.Neves

quinta-feira, 10 de junho de 2010

RALLY DE PORTUGAL - PARTE 2.

Ora vamos lá continuar...

Depois de dois dias de reconhecimentos bastante duros, uma vez que a organização estipula um tempo máximo de duas horas para cada troço, incluindo as duas passagens de reconhecimento e respectivas ligações, lá saímos em direcção ao estádio na expectativa que tudo estivesse de acordo com o previsto. Alguns telefonemas depois e percebemos que a nossa assistência já vinha também a caminho, e que depois de uma longa maratona, estava tudo bem com o carro, visto que depois de (re)feito o motor e reprogramada a centralina como previsto, agora tudo parecia ok e preparado para esta longa maratona que seria o Rally de Portugal.

GPS montado, os restantes pormenores finalizados, e lá nos dirigimos para as verificações técnicas á nossa hora prevista. Eram 18h e 26m, mais precisamente, quando entrámos para verificar o Mitsubishi, já prevendo que ali iríamos ficar um bom par de horas, pois nestas coisas de Ralis do Mundial, há que ir com um camião cheio de paciência, tal a minusiocidade e o excesso de zelo com que os comissários técnicos levam a cabo o seu trabalho.

Eram já perto das 23h (sim, isso mesmo), quando saímos de lá com o selo de OK colado ao roll-bar. Depois destas verificações, o Mitsubishi parecia que tinha feito uma visita ao "Miami Ink", tal a colecção de "piercings" que lhe tinham colocado. Tudo foi selado; diferenciais, caixa, bloco, e tal como habitualmente, o turbo. Apesar de tudo, menos mal. Mais uma etapa superada. Agora podiamos ir descansar um pouco mais tranquilos, uma vez que no próximo dia apenas havia que andar um pouco com o carro, afinar as suspensões em função dos pneus que nos obrigam a usar, pois pesam cerca de 2,5kg a mais cada um, e fazer apenas alguns acertos de pormenor antes da super especial no estádio, que iria começar por volta das 19,30h.

5ª feira, 27 de Maio, o dia D finalmente! Já estamos no Algarve há quase uma semana, e depois de algumas aventuras e desventuras, vai por fim começar aquilo para que nos andamos a preparar há já algum tempo. Durante a manhã aproveitamos para rodar o carro mais um pouco e também para o Rui (Porêlo) nos afinar as suspensões num pequeno troço de terra junto a Loulé. Por fim, estava tudo ok, ou quase, uma vez que a bomba dos diferenciais não estava a 100% como se constatou depois do técnico ter ligado a centralina dos diferenciais ao computador.
De qualquer das formas isto era algo que em termos de fiabilidade em nada afectaria a mecânica, apenas fazendo com que andassemos um pouco mais atravessados, por isso, nada de preocupações, além do mais, esta é uma prova em que não se anda em "maximun attack", e muitas vezes nem em "minimun" :-). Assim sendo, tudo a postos.

Na super especial do estádio, partimos com a dupla da Pirelli Star Driver, Nicholai Georgiou e Joseph Matar, ao volante de Um Evo X, e depois de uma manga bastante disputada conseguimos impor o nosso "velhinho" Evo VII, para nossa satisfação e também dos milhares de espectadores presentes, que como é normal estavam sempre a puxar e a apoiar os pilotos da "casa", ou seja, os Portugueses.

Depois de parar o carro em parque fechado e combinar tudo com a nossa equipa de assistência, havia que descansar bem esta noite, pois amanhã iria começar o rali a sério. Três dias que se avizinham duríssimos e onde haverá que ter muita paciência e cabeça fria, por forma a que se possam amealhar pontos importantes e não comprometer o resto do campeonato, por causa de uma só prova.
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(continua...)
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Um abraço.
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A.Neves

quinta-feira, 3 de junho de 2010

VIDEO SS1 - RALLY PORTUGAL 2010

Aqui fica um video da super especial de abertura do Rali, no Estádio do Algarve, onde batemos com o nosso "velhinho" Evo7, a dupla da Pirelli Star Driver, Nicholay Georgiou e Joseph Matar, ao volante do novissímo Lancer Evo 10.

http://www.youtube.com/watch?v=5CndsKuHfBQ

De referir que o video é da autoria do meu amigo Adérito Paulino.




Um abraço.

A.Neves